Vida de Santo Antônio de Lisboa
Amar Lisboa! Gostar de uma cidade como se gosta de uma pessoa? Não sei! Só sei que as minhas emoções e os meus sentimentos sobre Lisboa correspondem a um amor real, daqueles que tem altos e baixos, que tem alegria e arrebatamento, que tem tristeza e revolta, que tem cumplicidade. Que faz doer e ter saudades, quando estamos ausentes. Daquele amor que nos faz acordar todos os dias, e sentir a cidade como a nossa companheira, aquela que está sempre presente, que também nos ama e dá força, que cuida, que nos faz andar para a frente, com todas as suas qualidades e com todos os seus defeitos. Para além de olharmos para Lisboa, como uma companheira, que faz parte da nossa vida e do nosso dia-a-dia, também lhe reconhecemos as dificuldades e os defeitos, como por exemplo, o facto de hoje em dia, ser muito difícil viver na cidade, devido à pressão imobiliária internacional, que fazem dela, um sítio muito caro para viver, coisa de que os políticos que governam a cidade, pouco se importam. Lisboa evoluiu muito, nos últimos anos, pelo menos desde a revolução de 1974, e especialmente, nas últimas décadas. Cresceu, modernizou-se e tornou-se uma capital verdadeiramente europeia. Existem várias Lisboas, ou melhor, existem vários espaços e vários tempos, que caraterizam a cidade. É uma grande metrópole, onde se cruza muita gente, para além dos alfacinhas, ou dos turistas, que cada vez são mais. Lisboa começa por ser uma lenda, que a liga aos mitos de Ulisses, que a terá fundado em tempos muito antigos, e que a liga à sua vocação marítima, génese e vocação da nação portuguesa. Em termos cronológicos, sabemos que ocupa um espaço, já com vestígios que vêm desde os tempos da pré-história. Por cá, passaram povos iberos e celtiberos, antes dos romanos. Já foi terra de suevos, visigodos, moçárabes e muçulmanos. Já teve vários nomes, como Olisipo, Ulishbona ou Al-Ushbuna, antes de ser a nossa Lisboa. É uma cidade cantada e amada pelos poetas e pelos artistas, mas também pelo seu povo. Para conhecermos Lisboa, nada como a calcorrear a pé, passeando pelas suas colinas, pelas suas ruas, becos e ruelas e descobrir os seus pequenos detalhes, admirarmos as suas vistas, a partir dos muitos miradouros e conhecer as suas simpáticas gentes, sempre dispostas a meter conversa com os forasteiros, para dizer que vivem na mais bela cidade do mundo. É obrigatório conhecer os seus bairros mais antigos, como Alfama, Mouraria ou o do Castelo, sempre com o Tejo em pano de fundo. Também é obrigatório apanhar o elétrico 28, subindo e descendo as colinas de Lisboa, desde o típico bairro da Graça até Campo de Ourique, numa viagem de ida e volta, por quase toda a cidade. Cruzar Lisboa, é mergulharmos na História de Portugal, desde os tempos áureos dos Descobrimentos e da Lisboa manuelina, até à Lisboa pombalina, pós-terramoto de 1755. Para além da admirável arquitetura, das casas de muitas cores e forradas a azulejos, que nos contam muitas histórias, a cidade oferece-nos a monumentalidade do seu teatro romano do século I da nossa era, do castelo de S. Jorge que já foi dos mouros, da Sé catedral, das muitas igrejas renascentistas, clássicas ou barrocas, dos seus muitos mosteiros, palácios ou museus. A oferta cultural é grande.
Conhecer Lisboa, é também sentir os seus cheiros e os seus sabores caraterísticos, provar a sua gastronomia e beber um bom tinto, ou uma ginjinha nas suas tascas típicas, ao som de um belo fado da Amália, sem esquecer o famoso pastel de nata, que se comem quentinhos em Belém. Para degustar a soberba sardinha assada, verdadeiro ícone de Lisboa, o melhor mesmo, é esperar pelas festas populares do Santo António, que se realizam em Lisboa, na noite do dia 12 de Junho, galvanizando milhares de lisboetas, forasteiros e turistas, nos muitos arraiais e festas de arromba, pela noite dentro. Mas a noite lisboeta acontece durante todo o ano, em especial aos fins de semana, tanto no Bairro Alto, como na zona do Cais-do-Sodré, Santos ou Alcântara. Para além dos bairros populares, existem muitos outros espaços interessantes para explorar e conhecer, quer a pé, quer apanhando um tuk-tuk, que hoje em dia, circulam pela cidade, sem descanso. Da Baixa Pombalina, à imponente avenida da Liberdade, do Chiado até aos bairros de Santa Catarina ou da Bica, da Estrela até ao bairro da Lapa, passando pela Madragoa, por exemplo. Só sei de uma coisa: quem nunca viu Lisboa, nunca viu coisa boa! Já diz o velho ditado, por isso não perca tempo, faça parte desta cidade e seja também lisboeta.
Mas, a cidade não se circunscreve ao que já foi dito. Existe outra Lisboa, a dos seus habitantes e das suas vidas quotidianas na cidade. De Lisboa para os seus bairros mais afastados, ou ao contrário, dos bairros para a centralidade da cidade. Falemos, agora, das emoções e dos sentimentos, por exemplo, dos jovens do Bairro Padre Cruz. Como é que os nossos jovens alunos sentem o bairro e a cidade onde vivem? Como é viver e crescer no Bairro Padre Cruz e projetar a sua vida na cidade de Lisboa? Saírem do seu microcosmo e crescerem de encontro ao resto da cidade, que se abre para eles? E o que é que esta tem para lhes oferecer ou proporcionar, no seu futuro próximo, no seu crescimento e na sua plenitude de jovens adultos? E o que que eles têm, ou terão, para engrandecer a cidade? Que caminhos cruzados irão estabelecer? Que cidade irão construir? Começa pela expectativa da descoberta da cidade, como um todo, a partir da realidade mais periférica do bairro onde vivem.
Falámos sobre as emoções e os sentimentos com alguns dos nossos alunos, que tem em média, entre 10-12 anos, e ficámos a conhecer melhor um pouco da sua sensibilidade, da forma como veem o mundo, e como o sentem. Sabemos que a sua felicidade assenta nos afetos fortes da família e dos amigos, de serem compreendidos e aceites, nos gestos simples de um abraço, ou de poderem estar com um sorriso na cara, em paz e sossego, ou a correr de alegria a jogar à bola. Percebemos os seus medos maiores, que têm como pano de fundo, a doença, os acidentes ou a perda de familiares, e a sua tristeza, perante isso. Expressam-nos a sua raiva, quando os chateiam ou incomodam, ou se sentem injustiçados. Ficámos também a saber, o que os pode surpreender ou já surpreendeu, bem como, visualizam esses sentimentos, através dos seus desenhos simples, mas expressivos.
Um dos nossos objetivos, com o trabalho aqui apresentado, será mostrar a beleza, charme e grandeza de uma cidade tão encantadora e acolhedora como Lisboa. Por outro lado, e como complemento das atividades paralelas à tese de um dos autores, será revelar as emoções dos jovens de um determinado bairro desta cidade, visualizando o seu lado mais emocional e com uma visão mais alargada do lugar onde vivem. Nesse contexto, dedicamos um capítulo ao desenvolvimento teórico de conceitos básicos, como a emoção e o sentimento, as suas características e a sua diferenciação, quer nos seus aspetos positivos, quer negativos.
Pedro Rojas Pedregosa
⁃ Diplomado em Educação Física e Licenciado em Psicopedagogía.
⁃ Doutorado sobre "A representação das emoções e sentimentos através do desenho escolar".
⁃ Autor de numerosos livros com Editorial Wanceulen e revistas internacionais sobre atividade física e desportos. É autor também de duas novelas com o selo editorial Ediciones Moreno Mejías.
Fernando Oliveira
⁃ Professor de Português e História e Geografia de Portugal, no Ensino Básico