A Literatura e os Direitos Humanos
Muitas áreas da cultura têm se proposto a falar do Antropoceno — o período vigente, em que o impacto de algumas ações humanas sobre o meio ambiente se mostrou ainda mais destrutivo, quiçá irreversível. A seu modo, cada campo do conhecimento destrincha nossos graves delitos como humanidade que se pensou superior às outras formas de vida, às outras espécies e a determinados grupos entre seus iguais. Mas é na literatura — sempre ela — que essas dores ganham corpo e contornos capazes de nos tirar da zona de conforto e nos fazer imaginar mundos possíveis, com relações e ações mais harmoniosas, horizontais e coletivas. Depois do fim reúne um time de grandes autores em ensaios literários que propõem reflexões sobre dilemas atuais — catástrofe climática, extinção de outras espécies, exclusão social impulsionada pela exploração neoliberal, ameaça aos povos originários, entre outros temas —, convidando-nos a pensar sobre como tecer, em conjunto, um novo começo.
Entre os autores, Itamar Vieira Junior se dedica à reflexão sobre como humanos se relacionam com as outras espécies e o lugar afetuoso, ou não, que destinam a elas; Ana Rüsche comenta a ficção científica politicamente engajada de Ursula Le Guin, e Fabiane Secches fala da visão de mundo integrada com o todo da personagem sra. Dusheiko de Sobre os ossos dos mortos. Daniel Munduruku fundamenta a literatura indígena e defende como ela vem rompendo estereótipos e se constituindo como lugar de experimentação estética. Paulo Scott dialoga com "O direito à literatura", do mestre Antonio Candido, para defender que a dignidade da existência depende da manutenção de direitos essenciais, ao passo que Tulio Custódio articula o conceito de afropessimismo a uma leitura de "Homem na estrada", dos Racionais MC's, para abordar o racismo estrutural. Natalia Timerman encerra o volume discorrendo sobre finitude e recomeços.