O Ser e o Tempo
Este poemario que ahora nos trae Manuel Neto dos Santos, Sangue de nuvens / Sangre de nubes, se presenta en edición bilingüe. La traducción ha sido obra del prologuista, João Miguel Pereira., el cual, como hablante nativo de portugués con un excelente dominio del español —es docente y coordinador del Club de Lectura en lengua portuguesa en la Biblioteca Provincial de Huelva—, se ha acercado al texto original con la misma confianza e intimidad que comparte con el autor. Consejo de redacción de Los libros del estraperlo Em Sangue de Nuvens descobrimos Manuel Neto dos Santos (MNS), o homem por detrás do acto da escrita, o ser que alimenta o poeta que escreve na epiderme das suas memórias, os lugares e momentos que esculpiram o escritor e, com maior profundidade, na derme, o seu imaginário pessoal, os recantos mais sombrios desvelando a sua plena condição humana. Quando estamos perante um poema de Manuel Neto dos Santos sabemos que estamos perante versos de sulina sonoridade, de uma casta selecta e com uma corpulência demarcada. Cada palavra sorvida certifica o matiz estético que identifica o autor: «Na ponta desterrada do Oeste, aqui, mais uma vez, o sol descerra cortinas perante o firmamento e as terras trémulas exalando ainda o Verão. O rio, o rio inicial, humilhado pela sujidade dos charcos, sou eu mesmo, com essa planura que já desfralda a paisagem». Toda a estrutura poemática evoca uma dialéctica entre Manuel Neto dos Santos e os seus outros eus que distam de si no tempo e no espaço. No processo de montagem deste diálogo de si para si há despojamento genuíno e um forte cariz crítico. A safra poética de Manuel Neto dos Santos é a perfeita simbiose entre a súmula da poesia do seu tempo e o murmúrio de levantino lirismo da brisa arábico-andaluza: «deambulo sob um céu por um remontíssimo país não vivido nem real; e ouço as azuladas cantigas quando, a sós, me debruço para apanhar as rosas que me trazem a tua memória. Amo- te agora muito mais, meu país ao Sul da minha terra; Portugal». Uma vez mais com o mar como espelho reflector do caleidoscópio emocional, cuja intemporalidade nos perfilha no simples acto de contemplar. A divisa notável de um dos maiores poetas ao Sul. A poesia de Manuel Neto dos Santos tem raízes bem demarcadas, mas não pode ter, é imperativo que não tenha, a geografia da sua ressonância definida. Em boa hora alastrou o perfume da sua poesia por terras do Andévalo. Ganha a língua portuguesa um magnífico embaixador na pátria de Cervantes e convoca Espanha numa voz poética de rara profundidade e excepcionalidade. João Miguel Pereira