O Livro da Filosofia Ocidental
Com incansável curiosidade intelectual e permanente inquietação pelos destinos do mundo, Gilberto Freyre também se entregou a exercícios de futurologia, termo muito usado na década de 1980. Hoje, prefere-se usar futurível, que apresenta um sentido menos rígido. Seja como for, Insurgências e Ressurgências Atuais (cruzamentos de sins e nãos num mundo em transição), lançado em 1983, trata de um futuro possível, a partir das heranças do passado e da realidade de então, o que o autor chamava de tempo tríbio.
Polêmico, discutível, gilbertiano, no pleno sentido da palavra, o livro se elabora em muitos planos e perspectivas que, como sempre em sua obra, vão além do que promete o título, como comprovam as reflexões sobre temas de permanente interesse do escritor: raça, religião, a cara e o coração do Brasil, entre outros.
Desconfiado da filosofia que exalta desenvolvimento e modernização quase como sinônimos, Freyre prefere ver o mundo de então como uma época de insurgências e ressurgências. Ressurgências que contrariam a filosofia da globalização política, através da imposição de um centro "dominador absoluto de decisões", pretendido por europeus e norte-americanos. Como esperança de equilíbrio do mundo, brotam em todas as partes do planeta as insurgências contra esse domínio: o reflorescimento de velhas culturas, demonizadas pelo Ocidente e apontadas como ameaças externas, como o islamismo, a ascensão mundial do poder chinês, a antevisão do Brasil como uma espécie de prefiguração da humanidade do futuro. Em vários pontos, as projeções de Gilberto Freyre já se realizam. Veja-se o conflito do Iraque, um episódio da globalização que o Ocidente deseja impor ao mundo em choque com as insurgências daquelas culturas milenares. Muitos outros aspectos apontados pelo sociólogo também se esboçam como realidade futura. O tempo dirá se sim ou se não.