Diário de Navegação
Considerado um dos melhores livros de 2011 pelo jornal The New York Times, Guerra santa - Como as viagens de Vasco da Gama transformaram o mundo é um relato surpreendente do período das grandes navegações – uma época marcada por conflitos entre civilizações e conquistas que mudaram o rumo da história. Escrito pelo historiador, biógrafo e crítico Nigel Cliff, o livro revela detalhes impressionantes das três viagens de Vasco da Gama ao Oriente.
Para recontar essa grande aventura por oceanos e terras até então desconhecidas, Cliff mergulhou em um mar de documentos históricos, cartas, diários de viagem e outros registros feitos por testemunhas oculares, incluindo muitos dos próprios navegantes. Ele também viajou por lugares visitados por Gama, como Roma, Marrocos, Lisboa, Tanzânia, Moçambique, Quênia e Índia.
Na visão do autor, Gama foi um homem ambicioso a serviço de um rei obcecado pelo poder. Manuel I ambicionava expandir os seus domínios e controlar todo o rentável comércio de especiarias, até então sob controle dos muçulmanos. No comando de uma pequena frota formada por três embarcações, acompanhado de 148 a 170 homens, Gama partiu em busca de uma rota alternativa para as Índias. Sua tarefa, conta Cliff, “não era apenas a de chegar até a Índia; uma vez lá, ele deveria negociar alianças que derrubassem o Islã e que colocassem Portugal no poder [...]. Ele precisaria inspirar, convencer e ameaçar; caso o argumento falhasse, ele teria que persuadir através das armas”.
No mastro das caravelas, a cruz vermelha, símbolo da Ordem dos Templários, não deixava dúvidas: eram os cristãos se lançando em mais uma cruzada, desta vez pelo mar.
Não foram poucas as dificuldades enfrentadas por Gama e seus homens. Seguindo por uma rota incerta abaixo do equador, as embarcações precárias foram muitas vezes assoladas por ventos e tempestades devastadoras. Os navegantes também foram fustigados pelo calor escaldante, alimentação escassa e doenças que resultaram em numerosas baixas. Em várias ocasiões os portugueses entraram em conflito armado com habitantes ao longo da costa africana, onde ancoravam para reparos ou para se reabastecer de água, madeira e alimentos. “No entanto, a exploração sem precedentes do oceano valeu a pena [...] Vasco da Gama tinha descoberto a rota de navegação mais rápida e mais segura da Europa para o cabo da Boa Esperança”, relata Cliff.
A viagem de Gama abriu caminho para muitos outros exploradores, inclusive Pedro Álvares Cabral. O sucesso de sua empreitada havia transformado Lisboa de uma “cidade à margem do mundo” em um “centro comercial que rivalizava com os mais ricos entrepostos do Oriente” e “subitamente o milenar domínio comercial muçulmano havia declinado”, diz o autor.
Em Guerra santa, o leitor vai encontrar explicações não apenas para os conflitos do passado, mas para sua estreita relação com o presente. É possível entender, por exemplo, por que Portugal, que tinha tudo para se tornar uma grande potência mundial tornou-se um dos países mais pobres da Europa. O autor também traça um paralelo entre o movimento das cruzadas e as atuais ações terroristas: “Mais impressionante ainda é a forma preferida da al-Qaeda de contra-atacar o Ocidente: perturbar seu comércio explodindo aviões e causando ‘uma hemorragia na indústria da aviação, uma indústria que é tão vital para o comércio e o transporte entre os Estados Unidos e a Europa’. Substitua navios por aviões e o oceano Índico pelo Atlântico e estamos de volta ao século XV”.