A Imagem
Neste instigante livro de Sandra Duarte, as narrativas de Jorge Luis Borges e as obras visuais do artista capixaba Hilal Sami Hilal entrelaçam-se de maneira ímpar, deflagrando múltiplos sentidos e provocando um leque de possibilidades conceituais e imagéticas. Com acuidade e desenvoltura, a autora não apenas transita em teorias contemporâneas sobre as relações entre literatura e outras artes, como também evidencia as afinidades, interseções, disjunções e enlaces entre os dois autores, num exercício lúcido e criativo do comparativismo estético-literário.
O signo livro, em seus vários desdobramentos, é o cerne das reflexões: a obra como objeto, imagem, tema, metáfora, alegoria ou conceito. Isso porque, como mostra a autora, Hilal dá corpo aos livros fantásticos borgianos e incorpora em suas instalações – como "Biblioteca" e "Sherazade", entre outras – a construção labiríntica e inesgotável de alguns escritos de Borges voltados para o universo das bibliotecas, dos labirintos e espelhos. Sob esse prisma, os contos A biblioteca de Babel (2001), O livro de areia (1978) e O Aleph (2007) são tomados como principais referências e colocados em confluência com os trabalhos de Hilal à luz da ideia "correspondência entre as artes".
Resultado de uma pesquisa consistente, que também percorre momentos emblemáticos dessas correspondências interartísticas ao longo dos tempos, este livro traz uma inegável contribuição tanto para os estudos desse notável artista brasileiro quanto para a sondagem contemporânea das interfaces entre artes visuais e literatura.