A Imagem
A definição albertiana do bordo como elemento prévio a toda a pintura é indissociável da determinação do olhar do espectador, o qual por sua vez determina a construção regular das proporções internas à representação. A perspectiva é tanto o dispositivo teórico como o artifício visual que fixa o lugar do «ponto central» do olhar para conduzir a istoria e a a acção narrativa. Assim, com a moldura e a construção em perspectiva, Alberti inventa simultaneamente o quadro e o espectador. Mas a novidade que a «janela aberta sobre a istoria» instaura, com os seus bordos e efeitos, autoriza também a sua própria transgressão. A autonomia da composição albertiniana, não se confina apenas à representação interna da narrativa mas sim a uma experiência corporal e sensível que solicita um espectador directamente implicado na imagem que vê e o observa.
Muito para além da iconografia tradicional, Arasse propõe uma indagação concreta sobre os dispositivos visuais e narrativos da pintura do Renascimento.
Partindo de uma crítica da iconologia, que sintetiza a experiência visual numa significação genérica, o autor promove uma pesquisa sobre detalhes e aspectos marginais das representações picturais. O tema da Anunciação não se constitui apenas como um significado transcendental, mas como uma narrativa que exige o seu próprio enquadramento e os seus próprios efeitos de interpelação. A transgressão do quadro é, sobretudo, um «trabalho visual» onde cada obra opera e exige a sua própria experiência e interpretação.